Meu amigo secreto: precisamos falar sobre família, trabalho e amigos

"print" retirado do twitter

“print” retirado do twitter

Nesta semana o facebook foi invadido por relatos de numerosas mulheres usando a hashtag #meuamigosecreto. Os relatos basicamente denunciavam posturas machistas de homens próximos como chefes, colegas de trabalho, familiares e amigos, ou seja, essas seriam descrições sinceras dos amigos secretos que raramente teríamos coragem de dizer na festa de natal antes de entregar o presente para o dito cujo.

Conjuntamente com a hashtag #primeiroassédio, também lançada a pouco tempo, causou uma comoção entre as feministas. Foi um incentivo e uma oportunidade para diversas mulheres que tinham vergonha ou receio de falar sobre machismo não como uma ideia abstrata mas sim como uma violência tão próxima e diária. Inundar o facebook com relatos tão sinceros e emocionados foi uma ótima oportunidade para o nosso desabafo e para que os homens que conhecemos fossem obrigados a ler as situações horríveis pelas quais passamos e que são naturalizadas. Os homens próximos, como irmãos, pais e colegas puderam perceber que agressões machistas não estão distantes e que, pior ainda, eles também podem ser nossos agressores.

meme retirado do facebook

meme retirado do facebook

Muitas foram as denúncias sobre ex-companheiros abusivos, pais ausentes, pais que tratavam filhos e filhas de forma diferente por questão de gênero, familiares próximos que abusaram das mulheres enquanto elas eram crianças, irmãos que nunca dividiram as tarefas domésticas, militantes das mesmas organizações que tratavam as mulheres como menos capazes de discutir política ou até mesmo militantes que na teoria se dizem pró feminismo mas na prática são abusivos com as mulheres etc.

É assustador como as mulheres conseguiram se reconhecer umas nas histórias das outras. Não é excepcional, não é um ou outro homem que é abusivo. Os homens todos foram ensinados que ser abusivo, que forçar sexo violento (vide pornografia), que fazer violência psicológica, que estuprar (estupro dentro de namoro é algo assustadoramente comum e pouco denunciado) etc, é algo que é “coisa de homem mesmo” e que boys will be boys. Essa campanha é importante para mostrar o quanto o comportamento que é socialmente aceito de ser homem é prejudicial a todas as mulheres.

Apesar de ser um movimento de internet, de classe média, ou seja, tem os seus limites de alcance, acredito que foi um passo importante. Um passo para união de mulheres: que muitas vezes contaram histórias sobre o mesmo amigo secreto… O reconhecimento de que o abuso não é a exceção, que as situações de machismo pelas quais já passamos na vida aconteceram com milhares e milhares de mulheres, que o primeiro assédio de todas nós foi muito traumatizante, que muitas de nós tem um familiar pedófilo que nunca foi denunciado etc, faz com aumente nossa vontade de lutar e de expor as situações que são intoleráveis e que devem ser denunciadas, mesmo quando já não há evidências para denúncia na delegacia. Apesar de reconhecermos os limites de cada uma e o medo que muitas possuem de retaliações ou de que as pessoas não vão acreditar (cada uma deve denunciar se quiser e quando quiser, não se pode forçar a barra para que a mulher denuncie se ela não quer, deve-se conversar e confortá-la).

Imagem retirada do facebook

Imagem retirada do facebook

Muitos homens escreveram textos para mostrar que a campanha “fulanizava” questões estruturais, outros falaram que os nomes tinham que ser apontados, outros reclamavam de outros coisas. Acredito que não devemos nos desgastar para explicar aos homens o por quê as mulheres devem se unir e expor machismo. Primeiro que eles não entendem que não é algo fácil para nós expor essa violência. Segundo que a maioria de nós seria desacreditada até mesmo pelos familiares. Terceiro que o “fulano”, se tivesse seu nome exposto, poderia nos processar por calúnia se não tivermos provas do assédio. Sabemos que o é machismo estrutural (e acredito que devemos nos unir contra o capitalismo já que apenas assim o machismo poderá de fato acabar, o que não significa que enquanto o capitalismo não acabar as mulheres devam ficar caladas), mas o fato de ser um problema coletivo não deve ser impedimento para expor as situações concretas e materiais. Sem materialidade seríamos chamadas de “loucas” e “histéricas” que estão inventando uma opressão que não existe…

Enfim, fato que o natal está chegando e com ele as festas em família. Essa é uma época muito tensa para muitas mulheres que serão obrigadas a conviver com parentes que abusaram delas. Pais, tios, padrastos, primos, amigo antigo da família etc etc etc. Por isso a importância da campanha de incentivo à denúncia. Sabemos que a denúncia no seio da família é algo difícil para todas nós, por isso precisamos nos unir já que juntas somos mais fortes.

Sem título

Imagem retirada do facebook com autorização da autora

Imagem retirada do facebook

Imagem retirada do facebook

Um comentário sobre “Meu amigo secreto: precisamos falar sobre família, trabalho e amigos

  1. Pingback: Primavera feminista latino-americana | cientistasfeministas

Deixe um comentário